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Hermetismo: A Gnose Egípcia



Tal como é em cima, assim é em baixo,

para que se cumpram os milagres do Único.

Corpus Hermeticum (séc. II-III d.C.), Poimandres

O para mim fascinante, apesar de controverso, egiptólogo René Adolph Schwaller de Lubicz (1887-1971) definiu uma vez assim a gnose egípcia:

O Egipto faraónico é essencialmente prático. Dirige-se à Natureza, sem a violentar, e atua com os meios naturais nos quais vê os símbolos de estados espirituais, cognoscíveis apenas de forma intuitiva, através da inteligência do coração… O nosso modo de agir exige a teoria prévia. O antigo Egipto, realista, atua naturalmente, sabendo que a teoria não é mais que uma fixação que limita a ação espontânea que brota do coração purificado, o lugar de encontro com a Causa original.

Há um livro que recomendo sempre aos meus alunos, La Cábala y la Alquimía en la Tradición Espiritual de Ocidente, de Ramón Arola, investigador da Universidade de Barcelona, no qual o autor afirma o seguinte:

Quem deseja penetrar no pensamento hermético deve avançar com cautela no inextricável labirinto de caminhos abertos (por vezes aparentemente), em nome da arte hermética.

O ensinamento hermético foge do definido, do óbvio e do evidente. Apresenta-se pleno de sombras e matizes, no mistério mais secreto e profundo, para que aí, nesse encontro, se produza o reconhecimento interior de uma sabedoria perdida e esquecida.

Os atributos simbólicos e mitológicos de Hermes não se podem separar da transmissão do mistério que permite ao homem obter a sua salvação e, tal como o caduceu ressuscita os mortos, é-lhe atribuído igualmente o dom da eloquência, pois a palavra viva (a que se chamou “a palavra perdida”) ressuscita a memória profunda dos homens. Sem a ciência hermética, a alma do homem não pode voltar à sua origem divina.

Na estela que se encontra aos pés da esfinge é relatado um episódio da vida de Tutmés IV, antes de se tornar Faraó. Um dia, ao meio-dia, encostou-se à sombra da Esfinge e adormeceu. Então, o deus do Sol falou-lhe em sonhos pela boca da Esfinge:

Olha para mim, Tutmés, meu filho! Sou o teu Pai. O meu rosto e o meu coração voltaram-se para ti, pois tu pertences-me. Vê em que estado me encontro, prisioneiro das areias do deserto, que ameaçam continuamente cobrir-me. Espero que executes o desejo do meu coração e me libertes destas areias, pois sei que és meu filho e meu protetor.”

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